sábado, 12 de março de 2011

Bravo, Bravíssimo Maestro, ou o Obituário da cultura de resultados

Bravo, Bravíssimo Maestro, ou o Obituário da cultura de resultados

Quando vemos gestores de organizações tomando algumas atitudes que vão contra o fluxo da história, paramos para tentar entender o porquê de seus procedimentos. Fazem isso, às vezes, por ignorância, outras por pressão institucional por resultados, e em alguns casos, por deformação moral. Rasgar a História de um grupo pode parecer tarefa fácil, mas exige alguns procedimentos. Primeiramente tire seu credo, sua crença. Segundo, tire seu foco, seu objetivo, pois de nada adianta pessoas que não sabem para onde ir, aonde chegar. E em terceiro, deponha, demita, elimine seu líder. Velha receita já nos ensinada a muito por Maquiavel. A demissão do Maestro João Paulo Sefrin da regência do Coral Unisinos, não cala somente a vez e a voz de nosso mestre, mas cala e fere toda uma geração de cantores e cantoras, que foram criados sob sua égide e seus ensinamentos, que por sua vez nunca nos deixou que nos esquecêssemos dos nossos mentores. Da professora Silvia Prieto precursora e seu violão na década de sessenta, do professor Thomas nosso primeiro regente na década de setenta, do inesquecível Zé Pedro, da professora Lúcia Passos, e de todos, centenas de cantores que passaram pelo Coral Unisinos nestes quase quarenta e cinco anos. Eis aqui, a diferença, que admito possa ser a nossa diferença, mas que não está comprometida com uma visão que aceita a opressão, a injustiça, a indiferença. Visão esta nos ensinada dentro das salas de aula da Unisinos e difundida pela Companhia de Jesus nestes pagos desde os longínquos anos de 1628. Na convivência com o Maestro Sefrin, vivenciamos não somente música, mas respeito ao próximo, as diferenças, e as pessoas. Líder nato, humano como só ele, Maestro na concepção da palavra, nosso mestre, amigo, nosso professor. Que este texto não pareça o obituário de nosso mestre e amigo, mas que sirva como obituário de nossos projetos, ideais, nossos sentimentos como grupo, que termina aqui para esta geração que acreditava na cultura pela cultura, na música como instrumento que pode e muda sim a vida, o meio e o entorno das pessoas. Mudou nossas vidas enquanto cantores e das pessoas que de alguma forma e em algum momento foram tocadas por nossos sentimentos. Embora possa servir sim de obituário, pelo menos nosso obituário para um projeto que fora eleito pela Unisinos para a área cultural que prima pela ignorância, pela pressão institucional por resultados, e em alguns casos por deformação moral, quando copia projetos passados e por nós vividos, mudando somente seus nomes e títulos.

Paulo Henrique Rodrigues Machado

Ex-Coralista do Coral Unisinos

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